quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O banheiro


Muitas pessoas se conhecem diariamente por aí, eu, claro, não sou diferente delas, mas certo dia fui surpreendido com uma atitude no mínimo inusitada. Dia esse, aparentemente, como outro qualquer, após assistir uma aula interessante sobre arte brasileira, um de meus contatos do chat havia me convidado para um encontro antes do início de sua aula, estudávamos em turnos diferentes, mas era na mesma universidade, o que facilitou na decisão de aceitar o convite.
Enquanto aguardava a sua chegada, fiquei recapitulando algumas conversas que tínhamos madrugadas a fora em frente ao computador, e numa delas em especial, eu comentei que já havia trocado uns “amassos” com um carinha legal no banheiro do prédio das coordenações de cursos, lugar reservado, com pouco movimento, enfim, comentário bobo em conversas sem fundamentos de dois jovens quase zumbis acordados e interligados pela internet.
A cada lembrança que eu tinha das conversas, mais ansioso e nervoso eu ficava, ele era o tipo de garoto que me atraía, possuía pele clara, era inteligente, baixo e tinha um papo envolvente. Decidi sair da sala e ir à coordenação ver se encontrava alguém por lá, para ajudar a passar o tempo, mas durante o meu deslocamento, o amigo virtual foi ao local marcado, e eu não estava lá. Ao retornar, encontrei, no corredor, uma acadêmica recolhendo as inscrições para um congresso, ela me parou e perguntou se eu estudava na ultima sala do corredor, respondi que sim, e ela então avisou que havia um rapaz me procurando, e que ele estava aguardando na sala N3. O coração acelerou, caminhei lentamente, suava frio, meus pés pareciam pesar, minha cabeça me aconselhava _ Calma, mantenha-se tranquilo, não vá fazer e nem falar nenhuma besteira_ Como se fosse adiantar alguma coisa.
Ao chegar em frente a sala, fui olhando devagar e um singelo sorriso escapou  quando o vi, sentado sobre uma mesa, de costas para mim e de frente a uma janela. Fiquei pensando no que falar, como eu iniciaria a conversa. O que eu devia falar para não parecer nervoso? Ele virou e me viu plantado em frente à porta, sem ação. Ele sorriu, e perguntou _ Não vais entrar? Eu, prontamente, sai do transe e respondi _ Claro. Entrei.
Passamos alguns breves minutos conversando e nos “conhecendo”, afinal, já tínhamos tido tantas conversas por meio de redes sociais e telefone, que o nervosismo do primeiro encontro ao vivo, logo se dissipou e já estávamos nos tratando como velhos conhecidos. Mas já chegava a hora de ele ir pra sala, resolvi me despedir e justifiquei que tinha que falar com a coordenadora do curso antes de eu ir embora, ele se ofereceu para ir comigo, uma só coisa passou em minha mente neste momento, a conversa sobre o banheiro das coordenadorias, muito embora eu no fundo não acreditasse que despertasse algum interesse naquele rapaz tão descolado. Fomos à coordenação, subi as escadas e após constatar de que não havia ninguém na sala, já com segundas intenções, o comuniquei que precisava usar o banheiro e desci em direção ao mesmo. Era a hora de saber se ele realmente tinha algum interesse em mim, ou se apenas tinha sido gentil em se oferecer a me acompanhar até a coordenação.
Cinco minutos passados e nada. Resolvi sair, afinal ele poderia pensar que eu estava passando mal ou coisa do tipo, lavei as mãos e resolvi retribuir a gentileza me oferecendo para acompanhá-lo até sala de aula. Caminhamos lado a lado, eu , pensativo, e um pouco cabisbaixo, estava me remoendo de vontade de beijá-lo, e infelizmente não comprovei reciprocidade. Mas quando menos esperava, ele parou e perguntou _ Vai terminar assim?_ Eu respondi com outra pergunta _ Assim como? _ E ele _ Sem nenhum beijo! _ Meu coração parecia saltitar no peito, a emoção e a surpresa foram tão grandes que não consegui disfarçar a satisfação com o questionamento. Expliquei para ele que se dependesse de mim, estaríamos nos beijando desde o primeiro momento que o vi sentado sobre a mesa, mas ele retrucou dizendo que em nenhum momento me sentiu interessado nele, sorri e pensei alto_ Pensei a mesma coisa sobre você, até entrei no banheiro, na expectativa de você lembrar-se da conversa sobre o banheiro do prédio das coordenações_ Ele sorrio também e falou _ Eu lembrei, mas fiquei com receio de você pensar que eu era algum atirado.

Após os desencontros de leituras comportamentais, resolvemos abrir o jogo e voltamos ao banheiro, nos abraçamos e nos beijamos. Desde este dia, passamos a usar o banheiro como ponto de encontro, o nosso relacionamento moderno ficou muito intenso em um curto espaço de tempo e assim como nasceu, ele se foi. Hoje, continuamos adicionados nas redes sociais, compartilhamos informações, mas o banheiro do prédio da coordenação ficou no passado e em nossas memórias de jovens aventureiros.

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